« Home | Sem titulo » | Hello Miss Mckay » | Almost Famous » | Dance with me » | Nouvelle Vagueeeee » | Mais um poster » | A cidade é um chão de palavras pisadas » | Logo que nasciFoi-me dada ordemDe me procurarLogo ... » | The Arcade Fireeeeeeeee » | O que ai vem de bom II »

Historias

Provavelmente somos todos pré-escritores. Com tanta coisa para nos inspirar com apenas abrir os olhos ou respirar com mais certeza. O problema estará talvez na escolha do tema. Xa ver, aqueles lizandros tan bonitos fizeram-me lembrar daquela vez quando era jovem e percorria aquele caminho para ir para a vila.
Somos todos talvez não assumidos contadores de histórias. Se não, qual a razão para enchermos as nossas conversas de tão aborrecidos pormenores? Todas as estradas são iguais. As flores nascem em todo o lado. As crianças e os animais também. Safa! E há sempre a indicação temporal. O verão mais quente da década ou aquelas chuvas, lembras-te que inundaram aquele aldeiazinha no ribatejo. Pelo amor de Deus, ande lá com isso. E depois claro, vem o conhecido que conheceu aquele que depois foi e mandou cumprimentos por aquele que voltou. Ah, e a roupa claro. A referência estética porque os olhos também ouvem. E agora que já não se usa aquelas saias. Eram tão bonitas. Fica-se a achar que afinal só podem estar a gozar com a nossa cara. E a conversa que começou no milheral acaba com a Matildinha a guardar orgulhosa o I Pod na manga de balão. Claro que nós perdidos. Mas também já estávamos desde o início por isso o melhor É mais um café se faz favor!

Ponto prévio: Vai correr, pá!

De resto: Mais do que pré-escritores, somos todos descendentes da tradição oral, que terá sido inventada, sobretudo, para aperfeiçoar a necessidade de comunicarmos uns com os outros. É por isso que tentamos criar empatia através de aborrecidas histórias triviais. O problema é que isso não passa de uma falácia, visto que é virtualmente impossível partilhar seja o que fôr com quem quer que seja. Ainda que duas pessoas consigam, por exemplo, partilhar um sentimento (e, note-se, não é absolutamente necessário seja através de uma história ou mesmo pela comunicação oral), tal deve-se apenas e só ao acaso: não é a comunicação que desenvolve a empatia, mas sim o acaso de um sentimento estar a ser partilhado que faz com que o tentem explicar e dar-lhe significados que, no fundo, não possui - e não estou, sequer, a levar em consideração o facto, nada negligenciável, de tal partilha nem sempre existir, mesmo que ambos pensem que sim. A verdade, nua e crua, é que nunca se saberá. É tudo uma questão de confiança.

E, ainda que possa existir uma partilha de sentimentos, "don't mistake coincidence for fate". Não há, necessariamente, um desígnio superior lá porque algumas pessoas se entendem - ou julgam entender - brevemente.

E, no entanto, lá nos vamos enganando a nós próprios (e ocasionalmente aos outros), nem que seja para passar o tempo, contando histórias que, por vezes, nem a nós nos interessam. Tem mais a ver com a nossa saúde mental do que com qualquer veia de poeta/isa, escritor/a ou narrador/a.

Não sei se isto fez muito sentido, o meu pensamento torna-se, por vezes, demasiado fragmentário. E isto acabou por se tornar uma longa história cheia de pormenores aborrecidos, parece-me.

Adenda em relação ao post anterior:Porquê sorrir mais quando se tem "uma espécie de plateia com dois dentes desiguais na primeira fila que tapam a vista ao resto"? Em primeiro lugar, porque assim deixam de te dizer para sorrires mais. Em segundo lugar, porque não há nada que envergonhe em ter "dois dentes desiguais", muito pelo contrário. Se bem que eu sou, talvez, um pouco suspeito por achar uma boca desigual um traço atraente numa mulher (vide exemplos Kirsten Dunst, Mary-Louise Parker ou Naomi Watts), é inegável que são as imperfeições que fazem de nós indivíduos singulares. No dia em que as pessoas passem a ser perfeitas a humanidade acabará, quanto mais não seja porque deixaremos de ser capazes de nos distinguir uns dos outros. Não vou ao ponto de dizer que devesses ter orgulho nas tuas imperfeições, mas assumi-las fica sempre bem. Sobretudo para ti e, por extensão, para os outros, que são os que vão ver o teu sorriso. Por fim, porque as coisas não são tão más como podiam ser. Este pensamento pode não ser suficiente para fazer alguém sorrir (e não é) mas permite criar um certo distanciamento que relativiza as merdices que vão acontecendo que não matam, mas moem. Aqui entra também o valor terapêutico das histórias aborrecidas que as pessoas contam umas às outras, aliás. E pega também com o ponto seguinte do teu post, que é "devia ser mais positiva".

Não irei entrar pela contradição de alguém que, há poucas semanas, me acusou de ser pessimista apenas pelo facto de eu considerar a hipótese que "as coisas" podem não melhorar. Ora aquilo que eu tentei explicar nessa noite (e, aparentemente, fracassei) é que não ser optimista não faz de uma pessoa, necessariamente, um pessimista. Há toda uma zona cizenta pelo meio que, arriscaria até, engloba a maioria das pessoas.

Não consigo acreditar no valor do optimismo per se, visto que me parece apenas uma maneira de as pessoas acabarem por se decepcionar quando a realidade bate, mas também não me agrada o pessimismo puro que nos impede de gozar verdadeiramente os momentos. O mais importante, e no entanto o mais difícil, é conseguir manter um certo equilíbrio: ter alguma esperança em relação a determinados momentos, mantendo, ao mesmo tempo, a lucidez necessária para não nos deixarmos cair na ilusão e na fantasia. E é aqui, sobretudo, que funcionam as compensações de que falas: é preciso abdicar de algum glamour para ser possível a tranquilidade que permite o tal sorriso de vez em quando. Ou para este ser genuíno.

Enviar um comentário