sexta-feira, outubro 21, 2005

Retrato deste país de fantasmas



Alice é um filme de ausências. E não apenas devido à temática da história.

Em Alice o plano não tem profundidade de campo, a vida não tem cor, as ruas não têm reconhecimento, as pessoas não têm corporeidade. É um filme povoado de fantasmas, porque também o é assim o nosso país. Em Alice corpos anónimos percorrem a atmosfera tão cinzenta como as suas próprias vidas. E estão sós, tão sós. Tal como a personagem masculina, mas para ele é a rotina que o faz sobreviver. Ele que procura um fantasma no meio de tantos outros.
Alice chega mesmo a não ter uma história. Mas é um filme de imagens tão assustadoras como belas que colam-se a nós como um vício. E é nesse embalo de angústia que nos deixamos levar tão encantados como anestesiados.
Alice é um filme triste. Muito triste. Mas pelo meio, o realizador parece não querer esquecer essa trágico-comédia na qual deveríamos ser especialistas e aproveita muito bem o reconhecido talento comediante de Nuno Lopes e Miguel Guilherme.

Mas há em Alice duas fortes presenças: a do elenco e a duma cidade que de vez em quando nos obriga a reconhecer que é parte indispensável da nossa vida. Porque Alice é nosso, Alice somos nós.

Eu Ninguém

eu ninguém
eu ninguém comigo só
posso ser
travesti de quem quiser
manequim de bazar
ou rainha do larmada
me butterfly
barbie suzie dolly polly pocket
tudo bem
mas eu posso ser também
emanuelle
lady miss mademoiselle
num harém meretrizou apenas actriz
o espelho me diz
gueixa vénus eva dama virgem mãe
é que eu sei
o que eu sou e o que não sou
mas é claro
o que eu for eu sou
sem ninguém
só o que eu tenho a saber
é quem de nós cem
hoje eu vou ser
sei lá sei lá
sei lá sei lá
sei lá sei lá
sei lá

Eu Ninguém
Clã, Arnaldo Antunes

quinta-feira, outubro 20, 2005

Sunrise


Ainda bem que temos cinemas que repõem pérolas como esta.

quinta-feira, outubro 13, 2005

Takk


Obrigado, dizemos nós...