Fui recentemente alvo de um reto lançado pela minha amiga
Virginia . Indicar cinco manias. Manias! Ouvida a quente é claramente negativa. Lida a frio acaba por não ter grande conteúdo. É no fundo banalizar hábitos, geralmente maus hábitos. Fui ver ao dicionário e salta logo a sua raiz latina:
loucura. Com mais pormenor
espécie de perturbação ou excitação caracterizada por aferro a uma ideia fixa. Espécie de perturbação? Juntar algo de tão indefinido a uma palavra tão forte deixa-nos um pouco perdidos. E essa perturbação dá-se apenas quando nos entregamos a essa ideia ou fica lá escondidinha à espera da próxima? E quando nos abandona será que migra qual polen, fecundando numa excitação febril potenciais corolas de obsessão?
Sim. No fundo e talvez seremos todos um pouco... loucos. Também que piada teria se assim não fosse? Num exercício de auto-psicanálise/como é que eu vou escrever isto/que se lixe, escavei os mais obscuros cantos da minha massa encefálica e sistema digestivo e consegui chegar às ditas cinco manias. Também não quis ir muito fundo porque senão ainda acabava com a mania que sou uma pessoa cheia de manias.
1. Tenho a mania que escrevo bem. Desde o dia em que o meu professor de Português, dum ano qualquer que já não me lembro, mas que foi depois da quarta classe e antes da tese de licenciatura, me disse que gostava dos meus textos, caiu-me em cima como o espírito santo, mas com menos dourados, milagres e perseguições. Confundi uma provável úlcera nervosa com talento e decidi ir para jornalismo. Anos depois descobri que não é bem isso que quero e agora já não sei nada mesmo. Úlcera leva ou não acento?
2. Tenho a mania de combinar cores. Não há dia em que a meia não esteja de acordo com a camisola e o casaco em pandant com tudo o resto. Esta coerência estética tem as suas desvantagens quando faço a mala de viagem. Ou até quando estou a cozinhar. Onde é que raio vou encontrar alfaces avermelhadas ou alho francês em tons de laranja?
3. Tenho a mania dos números pares. Esta é provavelmente a minha maior obsessão. No cinema fico sempre com o bilhete do lugar par. Par era o número que se via na minha camisola quando jogava basquete. Vivo com a firme convicção que os anos par são muito melhores para o meu karma. É chato é quando jogo com números. Reduzem-se a metade as minhas já pequenas hipóteses de ganhar alguma coisa.
4. Tenho a mania dos blogues. É o meu mais recente vício, juntamente com uma tal de série sobre gente numa ilha e umas gomas em forma de ursinho num lidl perto de si. A coisa ficou pior desde que aprendi a por música e agora metade do meu dia é dedicado a actualizar a minha particular radiodifusão cibernética. A verdade é que isto dos blogues veio mostrar ao anónimo mundo uma data de anónimos com muito talento. E isso é bom. A minha quota parte é bem mais modesta e com fins exclusivamente auto-recreativos.
5. Tenho a mania de deixar a roupa preparada de um dia para o outro. Este é um hábito dos dias de semana e porque a minha biologia ainda não se adaptou ao cedo levantar. Entre a ramela, o banho à pressa e o lento regresso do meu cérebro à sua posição normal, não há um momento de lógica para conseguir escolher uma mala quanto mais quatro peças de roupa.
E depois de confundir mania com vício, hobbie ou momentânea estupidez desafio:
O Sérgio, porque sim
A Catarina Silva, porque me apetece
O Gonçalo, porque me deu na real telha
A Vanessa, porque tem gostos cosmopolitas e eu tenho saudades dela
A Joana, porque está longe e também tenho saudades dela